No ano de 2015, iniciou no Brasil uma mobilização a partir do aparecimento de casos de contaminação pelo vírus da Zika, que passou a assustar a população e desencadear ações e campanhas de informação e prevenção da doença, modificação e qualificação dos fluxos e orientações para atendimento e diagnóstico do vírus no Sistema de Saúde do país. Dentro da Universidade, o momento é de reflexão e captação de informações sobre tudo o que cerca o Zíka vírus. Frente a isso, o presente trabalho traz uma síntese do que já se sabe sobre o vírus e o seu vetor de transmissão, assim como uma análise crítica acerca das origens, dos impactos e da organização para o enfrentamento desta epidemia.
O Zika é um vírus primeiramente identificado em macacos, na Uganda em 1947, em monitoramento da febre amarela. Foi identificado em seres humanos a partir de 1952 na Uganda e Tanzânia. Já no Brasil e Colômbia, os relatos de casos começaram em 2015. A maior possibilidade da entrada do vírus no país está ligada ao tráfego aéreo, e para que o patógeno passe a infectar uma população é necessária a presença do vetor, o mosquito Aedes aegipti. Por isso, Pedro Vasconcelos do Instituto Evandro Chagas, sugere em um dos vídeos da OPAS/OMS que somente uma ação integrada entre países poderá diminuir com a quantidade de mosquitos e consequentemente reduzir a probabilidade do número de casos.
Os principais sintomas causados pelo Zika vírus são os seguintes:
● Dor de cabeça
● Febre baixa
● Dores leves nas articulações
● Manchas vermelhas na pele
● Coceira e vermelhidão nos olhos
Em torno de 80% dos casos de Zika são assintomáticos. Quando o caso apresenta sintomas, dura de 3 a 7 dias. João Méndez, Acessor Regional de Enfermidades da OPAS/OMS, coloca que os primeiros cinco dias pertencem à fase aguda da doença e são os dias mais indicados para o diagnóstico preciso da presença do vírus. Por isso, ele espera que o sistema de vigilância busque assegurar que os pacientes com suspeita de infecção sejam diagnosticados nessa fase.
Sabendo da dificuldade de se fazer o diagnóstico preciso da infecção após a fase aguda, consideramos extremamente necessárias ações que auxiliem aos serviços a atenção devida que deve ser dada aos sintomas. Essa ação, também deve abranger a população para que o maior número de pessoas consiga distinguir quando deve procurar as unidades e ao mesmo tempo poder orientar pessoas próximas.
O mosquito Aedes Aegypti, é caracterizado por medir em torno de 1cm, ser preto ou marrom, com manchas brancas no corpo e pernas. Originário do Egito, a dispersão pelo mundo ocorreu da África, primeiro da costa leste do continente para as Américas, depois da costa oeste para a Ásia. O mosquito fêmea suga sangue para produzir ovos e se estiver infectado, poderá transmitir o vírus neste processo. O Aedes aegypti é um mosquito doméstico, que vive próximo ao homem e com hábitos diurnos. Reproduz-se na água parada a partir da postura de ovos pelas fêmeas.
A dengue, que já é uma doença mais conhecida no Brasil, também é transmitida pelo Aedes e provoca os seguintes sintomas: febre alta (39° a 40°C) – início abrupto, que geralmente dura de 2 a 7 dias; dor de cabeça; dores no corpo e articulações; dor atrás dos olhos; fraqueza; erupção e coceira na pele. A forma mais grave da doença inclui dor abdominal intensa e contínua, com vômitos e sangramentos. O vírus entrou no Brasil com força na década de 1980, no Rio de Janeiro, ocorreram diferentes entradas, em diferentes períodos, e aos poucos o vírus se espalhou.
Outra doença que tem chamado atenção no país é a febre Chikungunya, que pode apresentar os seguintes sintomas: febre alta de início rápido; dores intensas nas articulações dos pés e mãos; dores de cabeça e no corpo; e manchas vermelhas na pele. É importante ressaltar que só é possível contrair chikunguyna uma vez, após, a pessoa se torna imune pro resto da vida. Cerca de um terço dos casos não possui sintomas.
Os mosquitos e os seus locais de proliferação representam um significativo fator de risco para a infecção pelo vírus Zika. A prevenção e o controle dependem da redução dos mosquitos através da redução das fontes (eliminação e modificação dos locais de proliferação) e da redução do contato entre os mosquitos e as pessoas. "É mais eficaz modificar as condições que propiciam a proliferação do mosquito, do que focar diretamente nele, afirmam pesquisadores e sanitaristas entrevistados. O que permite a infestação dos mosquitos nas cidades brasileiras é ausência de saneamento e de oferta contínua de água, acúmulo de lixo, falta de drenagem e de limpeza pública, falta de cuidados dentro e fora das casas para eliminar qualquer acúmulo de água parada" - coloca Rogério Lannes Rocha, na edição nº 161 da Revista RADIS.
A notificação de focos do mosquito é uma prática que ainda pode e precisa ser qualificada e disseminada, mas avaliamos, principalmente, que as medidas tomadas frente a essa informação requerem mais responsabilidade dos gestores. Pois as ações da Vigilância, em nossa visão, têm dado um enfoque excessivo à aplicação de inseticida nas regiões com maior identificação de focos, sem se ter uma clara dimensão das consequências que isso pode acarretar para o meio ambiente e para a saúde das pessoas. Por isso é importante que as ações sejam elaboradas de forma integrada entre gestores, pesquisadores, sanitaristas e população de diferentes cidades e países.
A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial no mês de Fevereiro deste ano, liberou uma nota onde relata como se dá o atual diagnóstico do vírus. “(...)o diagnóstico laboratorial de infecção pelo Zika vírus pode ser realizado em amostra de sangue obtida por punção venosa, indiretamente pela detecção de anticorpos circulantes ou diretamente, pela detecção do vírus propriamente dito utilizando, metodologia molecular”. Este método de análise é capaz de detectar a presença do vírus nos primeiros 7 dias de infecção, sendo o tempo ideal de detecção até 4 dias após a infecção.
Não existe tratamento específico para o Zika vírus, apenas sintomático e de suporte, incluindo repouso, ingestão de grandes quantidades de fluidos e medicação sintomática (analgésicos, antieméticos e anti-histamínicos).
Redes internacionais estão se articulando para criar formas de agilizar os testes de diagnósticos e o desenvolvimento de vacinas assim como estudos para descobrir quais sintomas realmente o vírus causa, comprovar a relação direta com a microcefalia, identificar os riscos do paciente que está infectado com a doença, entre outras questões.
A professora Margareth Capurro, do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, quando falou sobre estudos de vacina contra Zika relata que ainda faltam informações da clínica médica (quantos sorotipos, quantas vezes uma pessoas pode contrair o vírus, entre outras) para iniciar testagem de vacina, esta que teve como base o vírus da Dengue.
Quando os primeiros casos de Zika vírus e microcefalia começaram a surgir no Brasil, informações não confirmadas como verdadeiras foram compartilhadas em redes sociais e grandes mídias, deixando os cidadãos confusos e assustados, sem saber a real dimensão da situação. Uma atmosfera de incerteza e desorientação foi criada, dificultando a discernimento de informações importantes.
O trabalho realizado nos últimos meses entre União, estados e municípios foi tardio mas de grande amplitude. O acompanhamento de famílias e seus lares por Equipes de Saúde, Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Controle de Endemias foi essencial para a criação de uma consciência comunitária acerca da gravidade do vírus e a importância da prevenção. Também, muitas denúncias de focos de mosquito chegaram à vigilância em saúde, para aprimorar o controle de criadouros.
Este cenário exemplifica o quão significativa uma campanha de prevenção em saúde pode ser, quando esta possui apoio e interesse de atores de todos pontos da sociedade. Este cenário exemplifica também o impacto que micro-ações comunitárias podem ter no sistema de saúde como um todo.
Uma dificuldade que ainda pode ser percebida no combate ao mosquito Aedes Egypti é a confirmação de vacina preventiva a curto prazo, pois para isso ainda são necessárias muitas pesquisas, inclusive sobre quanto tempo o vírus fica no organismo. Outra dúvida que gera grandes expectativas para a Vigilância e à população é acerca de existirem outras espécies de mosquitos que podem transmitir Zika. Ou seja, muitas incertezas pairam sobre o assunto, ainda não foi possível descobrir sequer a origem da entrada do vírus no Brasil, o que se tem são suposições sobre ele ter chegado durante a Copa do Mundo. O trabalho para clarear todas essas questões e gerar propostas é árduo e deve ser contínuo, exigindo muita responsabilidades de todos os envolvidos.
Fontes:
https://www.ufrgs.br/rscontraaedes/materiais/protocolo_manual_aedes_medicos_20160128_ver009_link_lft.pdf
http://www.sbpc.org.br/upload/conteudo/sbpcml_posicionamento_zika_virus.pdf
http://www5.usp.br/106786/pesquisadora-fala-sobre-vacina-contra-zika-e-controle-da-epidemia-ouca-na-radio-usp/
http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/sites/default/files/radis161_web.pdf
http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/sites/default/files/radis161_web.pdf
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