O Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre
promoveu na última sexta-feira, 23, o 1º Fórum Multidisciplinar de Trauma em
Pediatria. O evento reuniu especialistas do HPS e de outras instituições para
debater a realidade dos atendimentos de emergência em pediatria. A rotina
diária tem revelado um aumento preocupante nos casos de crianças com
queimaduras graves provocadas por acidentes domésticos. Também tem chamado a
atenção das equipes o numero crescente de crianças atingidas por armas de fogo
e armas brancas (facas e outros instrumentos perfurantes/cortantes). Este
último aspecto é um indicativo claro do impacto da violência urbana nas UTIs
pediátricas.
Durante o
evento, participei de apenas duas exposições, sobre Epidemiologia da violência
urbana na população infanto-juvenil de Porto Alegre, com a psicóloga Sandra
Kurtz, da Equipe de Eventos Vitais, Doenças e Agravos Não Transmissíveis,
Vigilância de Violência e Acidentes - CGVS e sobre o Estatuto da
Criança e Adolescente e o papel dos equipamentos de proteção social, com a
assistente social Cristine Kuss, do Serviço Social do HPS. A primeira apresentou dados dos
agravos por causas externas que atingem à população infantojuvenil e que são a
3ª causa de morte em Porto Alegre já superando as Doenças respiratórias, sendo
que dos 10 aos 39 anos é a 1ª causa de morte. A segunda apresentação apontou as
responsabilidades que o Estatuto da Criança e do Adolescente dirige para a
sociedade em geral e, principalmente ao setor público, e mostrou algumas das
intervenções que a equipe do HPS faz para tentar garantir uma proteção mais
ordenada dos direitos das crianças e adolescentes.
A reflexão proposta foi em cima da
questão “Por que é importante fazer a vigilância das violências?” e se apontou
que é a partir da vigilância que se tenta identificar onde estão casos de violência
envolvendo negligência, trabalho infantil (quase nunca identificado), abusos,
dentre outras.
Por fim, fizemos uma reflexão a partir do poema de Manoel de Barros, "O menino que carregava água na peneira".
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento
e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos
Nenhum comentário:
Postar um comentário