Hoje trago minhas reflexões sobre os temas discutidos nos primeiros quatro
módulos da Unidade de Tópicos Integradores em Saúde
Coletiva III, modalidade EaD, do curso. A UPP, durante o primeiro semestre de 2015, abordou
os temas acerca do que é o quesito raça/cor/etnia, racismo e gênero, racismo
institucional, Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, e Saúde
da População Negra e Indígena e o SUS. As discussões foram realizadas a partir
de fóruns, que tiveram como base diversas produções textuais e audiovisuais.
No
primeiro módulo, o fórum serviu para uma introdução da turma ao tema, onde
pudemos além de colocar nossa visão sobre o que conhecíamos previamente,
discutir acerca de dois vídeos. O primeiro e mais longo vídeo, intitulado
“Vista minha pele”, permitiu-nos refletir sobre como seria se, historicamente,
os brancos tivessem sido escravizados e consequentemente subalternizados pela
sociedade. Para muitos, foi a primeira vez que este ponto de vista foi
colocado, o que acabou sensibilizando a todos e motivando ao debate. O segundo
vídeo, expõe a visão do Gustavo, um menino de 10 anos, que fala sobre a
importância das culturas africana e afrodescendente serem ensinadas nas escolas
do Brasil. Ele coloca sua opinião de forma muito inteligente, sem se limitar às
produções sobre essa cultura, mas falando da importância dessa disseminação, do
racismo em geral e sua visão sobre as principais consequências dele. Observando
aos materiais disponibilizados, foi possível introduzirmos ao tema, tendo um
pouco mais noções sobre a importância de reflexões sobre ele em mais espaços,
tanto cotidianamente (nas esferas públicas e privadas), quanto ao longo da
graduação. Além disso, durante esse primeiro momento, outros materiais foram
disponibilizados pelos colegas e pela professora enriquecendo ainda mais o
debate e facilitando as formas de relacionar o tema com outras áreas.
O
segundo módulo trouxe para debate o artigo de Laura Cecília López, “O conceito
de racismo institucional: aplicações no campo da saúde”, publicado na Revista
Interface – Comunicação, Saúde, Educação, no ano de 2012. Foi um importante
material de análise sobre o que temos como base teórica para debatermos o
assunto, ainda mais sendo focado para o campo da saúde, onde o Brasil enfrenta
duros problemas com o racismo institucional. A autora, além de trabalhar o
conceito em questão, traz relações dele com as disputas do movimento negro e
suas conquistas atreladas às políticas públicas, trabalha sobre a dimensão
histórica do racismo institucional brasileiro, sobre as tecnologias que
passaram a existir nos serviços do sistema de saúde do país, sobre as relações
de biopoder envolvidas no estabelecimento de benefícios e oportunidades aos
diferentes segmentos da população do ponto de vista racial e enfatiza a
importância e a necessidade de pesquisas qualitativas de abordagem etnográfica
que reflitam sobre como estão operando as instituições frente a esse tema.
Assim como no primeiro fórum, foram trazidos outros materiais, porém buscou-se
focar no debate acerca do que está colocado no artigo. Então, foi possível
identificar que, por muitos anos, esta reflexão sequer chegava à academia e por
isso ainda acontecem casos de extrema opressão e indignidade ligados à
população negra nos serviços de saúde e em tantos outros.
Durante
o terceiro módulo discutimos a importância das instituições conhecerem o perfil
étnico-racial da população do Brasil. Para tanto, nos foi disponibilizado o
manual “Como e para que Perguntar a Cor ou Raça/Etnia no Sistema Único de
Saúde?” e o vídeo “Quesito cor”. O primeiro material trata sobre a importância
do acolhimento, da orientação e do encaminhamento dos usuários nos serviços de
saúde, sobre o sistema de informações de usuários(as) dos serviços de saúde e
enfoca nas questões entorno da informação e coleta do quesito cor ou raça/etnia,
mostrando os métodos e os motivos dessa coleta. Já o vídeo enfatiza que é
necessário, para a formulação de políticas públicas, o conhecimento desses
quesitos, afim de combater a desigualdade social do país, que impacta ainda
mais na população negra. Ele denuncia os agravos que atingem com maior
incidência essa população e também entrevista pessoas na rua para mostrar o que
elas entendem como sua cor/raça, colocando o quão importante é que todas as
pessoas saibam o que é racismo. No fórum desse módulo, foi trazida a
necessidade de sensibilizar aos servidores do sistema de saúde para o
levantamento do quesito raça/cor e de como fazer essa abordagem para que não
haja um afastamento ainda maior de negros e negras dos serviços de saúde.
No
quarto módulo, trabalhamos em cima do boletim “Análise do Quesito Raça/Cor a
partir de Sistemas de Informação da Saúde do SUS” publicado pela Secretaria
Municipal da Saúde de São Paulo, em 2011. O material, além de fazer uma análise
pelo recorte étnico-racial, incentiva aos serviços sobre a forma correta de
trabalhar com esses dados e traz gráficos que ajudam a identificar a
distribuição da população negra, os agravos mais incidentes, etc. Para o fórum
realizado durante esse módulo, tivemos de buscar informações no boletim, sobre
os agravos e doenças prevalentes nas populações que estivemos estudando, para
podermos identificar alguns motivos para esta prevalência, e quais os
determinantes para que essas populações sejam mais vulneráveis e refletirmos a
partir disso sobre possíveis intervenções, ações e políticas. Conversamos
também sobre a legislação (portarias e decretos) que dão suporte às ações já
existentes voltadas para negros(as) e indígenas, e a importância de servidores
e gestores estarem cientes do que consta em tais documentos, a fim de agirem
adequadamente dentro dos serviços e no planejamento de novas ações.
As
discussões contribuíram com a nossa formação crítica para que possamos pensar em como enfrentar os problemas ligados ao racismo e à
discriminação de populações vulneráveis, tanto cotidianamente quanto
institucionalmente, tendo o embasamento teórico e o compartilhamento de ideias
para isso. A forma como os colegas empenharam-se em não estarem limitados
apenas ao estudo dos materiais disponibilizados é um processo didático que
merece destaque. Também é necessário que
este debate não esteja limitado aos fóruns e seja levado para outras esferas
dentro e fora da universidade, pois é a partir de ações como essa que mudanças
reais no quadro epidemiológico e de inclusão social das populações negras e
indígenas, historicamente marginalizadas, podem acontecer. Precisamos criar um
olhar de respeito às diversidades socioculturais e esse processo somente será
possível com diálogos e intervenções que tenham envolvidos neles indivíduos
provindos de diferentes realidades com a mesma oportunidade de se pronunciar nos
espaços de debate, negociações e planejamento de ações.
Até mais,
A FUTURA SANITARISTA
Até mais,
A FUTURA SANITARISTA
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